Quando as pombas choram – Adeus, Prince
2016 continua a sua razia iconoclasta. Depois de David Bowie, Glenn Frey, Keith Emerson e George Martin, agora Prince. Reparem: todos os artistas que citei apresentavam-se com dois nomes. Prince era Prince. That’s it. E durante algum tempo (devido a batalhas legais com a editora) nem nome tinha, era só um símbolo. Era um ícone em si mesmo. E mesmo quando não tinha nome, todos sabiam quem ele era. TODOS. Bastava começar a cantar.
Vi há pouco alguém duvidar que, apesar da multiplicação de RIPs destas alturas, a maioria das pessoas consiga sequer enumerar 10 temas do Prince. Talvez; mas eu dou uma ajuda. Se viveram no planeta Terra nos últimos 30 anos, provavelmente até conhecem mais que isso. E de certeza que já dançaram ao som de “Cream”, “Kiss”, “When The Doves Cry”, “1999”, “Sexy MF”, “Let’s Go Crazy”, “U Got The Look” (a minha preferida) e já cantaram entredentes ou a plenos pulmões o “Purple Rain”, “The Most Beautiful Girl In The World” ou… “Nothing Compares 2 U”. Esse mesmo, que foi um mega êxito para Sinéad O’Connor. É dele.
Eu tive o privilégio de o ver ao vivo num concerto “espontâneo”, anunciado na véspera para o Coliseu. Bilhetes a 50 euros. “Este gajo é doido”, pensei. Nunca na vida que vai esgotar o Coliseu em pleno Agosto, com Lisboa vazia e bilhetes a este preço, à venda 24 horas antes. Doido! Chegando ao Coliseu 15 minutos antes da hora, já estava a sala à pinha. Lugar para sentar, era para esquecer. O melhor que se arranjou foi um lugar detrás da mesa de som, um spot perfeito para a minha amiga que jogava na mesma equipa do artista em palco— a dos baixinhos. Fomo-nos entretendo com as histórias dos engenheiros de som: nunca se sabia bem como poderia correr uma noite com Prince. Será que ele vinha? Quando ia chegar? Cinco noites antes, em Amesterdão, tinha feito o público esperar duas horas e só saiu do hotel quando a banda lhe mostrou pelo Skype que o público estava a fervilhar por ele. Nós “só” esperámos uma hora, mas quando Prince chegou, encheu-nos os sentidos durante três horas. A minha amiga ainda hoje define esse concerto como o melhor da vida dela. Foram três horas para a eternidade.
Prince era uma estrela. Para mim, o momento em que o seu brilho foi mais visível deu-se quando foi posto ao lado de outras estrelas. Aí sim, deu para ver quem brilhava mais. Num concerto de tributo a George Harrison — uma rara aparição de Prince neste tipo de eventos —, ao lado de Tom Petty, Steve Winwood e Jeff Lynne dos ELO, Prince apareceu a tocar um solo de Eric Clapton em “While My Guitar Gently Weeps” dos Beatles (imaginem a pressão) e encadeou toda a sala com o seu brilho. Uma boa metáfora para a sua vida.