Eventos no ArrábidaShopping Amor, vida e obra: quem foi Maria Helena Vieira da Silva? 16 Ago 2021 Na pintura, na ilustração, na tapeçaria - artista por inteiro. Conheça a mulher por detrás da genialidade da obra e prepare-se para a exposição do ano, patente até dia 5 de setembro, na nossa Galeria Pop Up, no piso 1.Maria Helena Vieira da Silva nasceu a 13 de junho de 1908, em Lisboa, no seio de uma família de classe alta ligada à cultura. O seu pai, o diplomata Marcos Vieira da Silva, faleceu em 1911 na Suíça, ficando Maria Helena, com apenas três anos, a cargo da mãe, Maria do Céu da Silva Graça, filha de José Joaquim da Silva Graça, o jornalista que fundou e dirigiu o jornal O Século. Tendo mostrado desde muito cedo interesse pela leitura, pela pintura e pela música, Vieira começou a estudar, com apenas 11 anos e ainda em Lisboa, música, desenho, pintura e escultura. Em 1928, com 19 anos, partiu para Paris com a mãe para continuar a estudar arte. Durante o primeiro ano em França, Vieira da Silva debruçou-se essencialmente sobre a escultura, tendo estudado nas academias Scandinave e La Grande Chaumière – onde conheceu o também pintor Arpad Szenes, com quem viria a casar e a dividir praticamente toda a sua vida – do amor à pintura. Mas já lá vamos. Em Paris, um ano de escultura chegou-lhe para pôr a pintura em primeiro plano. Em 1929, além de se iniciar na gravura, Vieira estudou pintura com grandes nomes da época como Dufresne, Waroquier, Friesz, Fernand Léger e Bissière. O primeiro contacto com Arpad Szenes, na Academia La Grande Chaumière, não deixou a jovem artista fascinada. Consta que foi ele quem se deixou apaixonar primeiro por aquela “rapariga ibérica”, da qual falava a todos os seus amigos, retornado à Hungria, no ano seguinte a conhecê-la. Novamente juntos, o impasse de Szenes e Vieira transformou-se em amor e deu em casamento. A partir daqui, Vieira perdeu a nacionalidade portuguesa e, por não regressarem nesse ano à Hungria, tornaram-se ambos apátridas. Nem por isso a pintora cortou as raízes portuguesas: as paisagens urbanas, os azulejos e as perspetivas das ruas e das casas de Lisboa permaneceram numa memória acesa e pintada ao longo de toda a sua vida – e eternizada na sua obra. Maria Helena Vieira da Silva e Arpad Szenes em Budapeste, a 13 de junho de 1930, dia do 22.º aniversário da artista. (Col. FASVS). Esta fotografia faz parte de um conjunto de photomaton e ilustra a viagem de três meses que o casal Szenes realizou a seguir ao casamento, durante a qual andaram por Budapeste (Hungria), pela Transilvânia (Roménia) e por Viena (Áustria), tendo ainda visitado brevemente a Alemanha. Fonte: fasvs.pt Vieira da Silva e Arpad Szenes, Villa des Camélias, 1930 (Col. FASVS)Fonte: fasvs.pt 1 de 2 Maria Helena Vieira da Silva e Arpad Szenes em Budapeste, a 13 de junho de 1930, dia do 22.º aniversário da artista. (Col. FASVS). Esta fotografia faz parte de um conjunto de photomaton e ilustra a viagem de três meses que o casal Szenes realizou a seguir ao casamento, durante a qual andaram por Budapeste (Hungria), pela Transilvânia (Roménia) e por Viena (Áustria), tendo ainda visitado brevemente a Alemanha. Fonte: fasvs.pt Em 1932, Vieira conheceu a galerista Jeanne Bucher, que acabou por organizar a sua primeira exposição individual de pintura no ano seguinte – e muitas mais durante toda a sua carreira, desempenhando um papel fundamental no percurso da artista. Em 1933, com apenas 25 anos de idade, participou numa exposição no Salon de Paris, a mais conceituada sala parisiense da altura. Em Portugal, expôs pela primeira vez dois anos depois, em 1935, na Galeria UP. Em 36, Vieira da Silva voltou a expôr trabalhos seus em Lisboa, mas desta vez com o seu marido Arpad Szenes, no atelier dos dois. Em 39, ano em que rebentou na Europa a Segunda Guerra Mundial, o casal mudou-se para Lisboa e procurou obter a nacionalidade portuguesa, que ao fim de um ano lhe foi negada. Sendo ambos apátridas e sendo Arpad Szenes de origem judaica, viram-se obrigados a emigrar. Como tantos outros artistas e intelectuais europeus, despojados de tudo, Arpad e Maria Helena exilaram-se no Rio de Janeiro durante a maior parte da década de 1940. A angústia, o desenraizamento e a dor que Vieira sentiu durante este período refletiram-se na sua pintura: abandonou as pesquisas abstratas (que só retomou em 47, quando regressou a Paris) e intercalou os retratos, as paisagens e as naturezas mortas com reflexões sobre a guerra; exemplo disso mesmo é a obra “História Trágico-Marítima” (1944), que retrata a chegada do casal ao Brasil com um navio cheio de tripulantes, dentro e fora do barco, com uma composição algo claustrofóbica e dramática – que tanto faz lembrar as fotografias tristes e recentes dos refugiados no Mediterrâneo. Vieira da Silva e Arpad Szenes, Lisboa, anos 30 (Col. FASVS).Fonte: fasvs.pt Visita a favela no Rio de Janeiro, 1941 (Col. FASVS).Fonte: fasvs.pt "Marie-Hélène au travail", Arpad Szenes, 1940. (Col. FASVS)Fonte: fasvs.pt 1 de 3 Vieira da Silva e Arpad Szenes, Lisboa, anos 30 (Col. FASVS).Fonte: fasvs.pt Durante os sete anos que viveu no Brasil, expôs no Museu Nacional de Belas Artes, em 1942, na Galeria Askanazy, em 1944, e, por último, no Palácio Municipal de Belo Horizonte, em 1946. Nesse mesmo ano, estreou-se em Nova Iorque, numa exposição organizada por Jeanne Bucher, a galerista que havia sido responsável pela sua primeira exposição a solo em Paris e que faleceu pouco depois. Em 47, já num período pós-guerra, o casal de pintores regressa à capital francesa. Durante a década de 50, Maria Helena Vieira da Silva encontrou um pouso mas a sua pintura, pelo contrário, viajou pelo mundo: as exposições foram de Paris a Estocolmo, de Nova Iorque a Basileia, de Amesterdão a Londres, de Genebra a Lisboa. Pelo meio, em 1956, Vieira e Szenes naturalizaram-se franceses. No ano seguinte, a mãe de Vieira mudou-se para casa da artista. Seguiram-se anos de estabilidade e, também por isso, de muito trabalho artístico e de enorme sucesso. Arpad Szenes e Vieira da Silva no Atelier do Boulevard Saint-Jacques, Paris, 1949. Fotografia de Willy Maywald (Col. FASVS). Vieira da Silva a trabalhar no cartão de uma tapeçaria para a Universidade de Basileia, 1954 (Col. Particular, Paris). 1 de 2 Arpad Szenes e Vieira da Silva no Atelier do Boulevard Saint-Jacques, Paris, 1949. Fotografia de Willy Maywald (Col. FASVS). Além da pintura, Vieira debruçou-se intensamente em novas e surpreendentes áreas: da tapeçaria aos vitrais, passando pelas ilustrações de livros infantis, pelos cenários de teatro e eternamente pelos azulejos. Na década de 60, destacou-se através de prémios e nobres distinções: França concedeu-lhe os graus de Cavaleiro e de Comandante da Ordem das Artes e das Letras; recebeu o Grande Prémio Internacional de Pintura da Bienal de São Paulo; foi-lhe atribuído o Grand Prix National des Arts em Paris; foi nomeada Sócia Honorária do Grémio Literário de Lisboa. Por esta altura, realizaram-se um pouco por toda a Europa exposições retrospetivas da sua obra. Em 64, deu-se a morte da sua mãe. O reconhecimento da genialidade de Vieira da Silva manteve-se e as homenagens à artista multiplicaram-se: Turim, Roterdão, Oslo, Basileia e Lisboa receberam retrospetivas. A cotação das obras da artista estavam por esta altura ao nível das de Picasso, seu contemporâneo. A arte ocupava os seus dias e os seus trabalhos foram sendo expostos em galerias e mostras conceituadas. Arpad Szenes e Vieira da Silva, atelier de La Maréchlerie, 1970. La Maréchalerie, Yèvre-le-châtel. (Col. FASVS) Vieira da Silva condecorada com a Grã-Cruz da Ordem de Santiago de Espada na Embaixada de Portugal em Paris, 1977 (Col. FASVS). 1 de 2 Arpad Szenes e Vieira da Silva, atelier de La Maréchlerie, 1970. La Maréchalerie, Yèvre-le-châtel. (Col. FASVS) Em 1975, realizou dois cartazes que ficaram para sempre no imaginário coletivo dos portugueses: A Poesia Está na Rua. A pedido da poetisa Sophia de Mello Breyner, de quem era muito amiga, Vieira inspirou-se em fotografias do 1.º de maio de 74 para retratar o 25 de abril desse mesmo ano, que a pintora não presenciou por estar em Paris. O resultado entrou casas adentro de norte a sul do país, numa imagem que se pendura em todo o tipo de paredes e corações. A poesia está na rua I, Vieira da Silva, 1975. Cartaz editado pela Fundação Calouste Gulbenkian para comemorar o 25 de Abril.Fonte: fasvs.pt A poesia está na rua II, Vieira da Silva, 1975. Cartaz editado pela Fundação Calouste Gulbenkian para comemorar o 25 de Abril.Fonte: fasvs.pt 1 de 2 A poesia está na rua I, Vieira da Silva, 1975. Cartaz editado pela Fundação Calouste Gulbenkian para comemorar o 25 de Abril.Fonte: fasvs.pt Em 85, perdeu o marido e grande amor da sua vida. Arpad Szenes morreu no seu atelier, a 16 de janeiro. Nesse mesmo ano, a artista expôs em Lisboa e em Lyon, e, no ano seguinte, realizou um cartaz para a UNESCO em que celebrou o Ano da Paz. Seguiram-se muitas exposições – de São Paulo a Lisboa – conjuntas, com obras de Maria Helena e de Arpad. Em 88, a Câmara Municipal de Lisboa atribuiu-lhe a Medalha da Cidade e foi eleita Membro da Royal Academy of Arts em Londres. Sucederam-se condecorações dos Estados francês e português. UNESCO - La paix, Vieira da Silva, 1986 (Col. Fundação Arpad Szenes-Vieira da Silva). Vieira da Silva com Sommer Ribeiro e Manuel de Brito, numa exposição da artista na Galeria 111, em Lisboa, em 1985. 1 de 2 UNESCO - La paix, Vieira da Silva, 1986 (Col. Fundação Arpad Szenes-Vieira da Silva). Na década de 80, o Metropolitano de Lisboa propôs a Vieira a decoração da estação da Cidade Universitária. A artista regressou a Lisboa para acompanhar a transposição para azulejo dos seus projetos, que estava a ser supervisionada por Manuel Cargaleiro, pintor e ceramista amigo da artista. Os dias foram-se tornando cada vez mais longos e Vieira ia menos ao atelier. Vieira da Silva e Manuel Cargaleiro, 1957 (Col. FASVS). Cargaleiro conheceu os Szenes em 1954 em Lisboa, através de uma exposição na Galeria de Março. Pouco depois partiria definitivamente para Paris como bolseiro da Fundação Calouste Gulbenkian, que Vieira da Silva apadrinhou.Fonte: fasvs.pt Vieira da Silva e Manuel Cargaleiro visitam as obras da estação de metro da Cidade Universitária, Lisboa, 1988.Fonte: fasvs.pt Inauguração de exposição de Vieira na Gulbenkian, no dia do seu 80.º aniversário (13/6/1988), dia em que lhe é conferida a Grã-Cruz da Ordem da Liberdade. Na imagem, R. Gulbenkian, Vieira da Silva, José e Madalena Azeredo Perdigão e o Presidente da Rep. Mário Soares. Foto de Júlio Almeida (Col. FASVS).Fonte: fasvs.pt Maria Helena Vieira da Silva e Maria Barroso na Galeria 111, Lisboa, 1990 (Col. FASVS).“Conheci Maria Helena Vieira da Silva há vários anos. Conhecia já a história da sua vida, tinha-me deslumbrado com a sua pintura e sentia um desejo enorme de a ver, de a contactar, de a ouvir. Foi na nossa Embaixada em Paris e estava acompanhada por seu marido, o também grande pintor Arpad Szenes. Lembro ainda, com emoção, o prazer que tive de a conhecer”.Fonte: fasvs.pt 1 de 4 Vieira da Silva e Manuel Cargaleiro, 1957 (Col. FASVS). Cargaleiro conheceu os Szenes em 1954 em Lisboa, através de uma exposição na Galeria de Março. Pouco depois partiria definitivamente para Paris como bolseiro da Fundação Calouste Gulbenkian, que Vieira da Silva apadrinhou.Fonte: fasvs.pt Em 1990, nasceu a Fundação Arpad Szenes-Vieira da Silva, (FASVS) em Lisboa, que partiu do desejo da própria Vieira, após a morte do marido, de criar um centro de estudos dedicado à obra de ambos, na sua casa de Lisboa. O museu inaugurou apenas quatro anos depois, mas tarde demais: Maria Helena não recuperou de uma delicada cirurgia e acabou por morrer, em março de 92. O museu viria a inaugurar em novembro de 94. Fachada principal da Fundação Arpad Szenes-Vieira da Silva Para a história, fica a sua obra de imensurável valor artístico e histórico. A artista portuguesa está atualmente representada nos museus de Arte Moderna de Paris e de Nova Iorque, na Tate Gallery em Londres, no Museu Nacional de Arte Contemporânea em Lisboa e no Museu da Fundação Calouste Gunbenkian, entre tantos outros. O principal é, claro, o museu da Fundação Arpad Szenes-Vieira da Silva, situado no Jardim das Amoreiras, em Lisboa, um lugar especial para o casal de artistas. De 26 de junho a 26 de agosto, Vieira da Silva entra no Colombo e todos os visitantes do nosso Centro têm a oportunidade de entrar no seu universo único: através de uma exposição imersiva que dá vida à obra da artista. Servindo-se da cor e da luz, de projeções e de uma banda sonora muito própria, os nossos parceiros realizam esta exposição inédita que garantidamente captará a atenção do público português. Aponte na agenda e visite, a partir de 26 de junho, a “Vieira da Silva. Exposição imersiva na obra da artista”. Até 5 de setembro, Vieira da Silva entra no ArrábidaShopping e todos os visitantes do nosso Centro têm a oportunidade de entrar no seu universo único através fotografias da carreira de Vieira da Silva e excertos de cartas que atestam algumas particularidades do seu percurso. Também vão estar expostos excertos de recortes de jornais alusivos a períodos específicos da vida da artista, bem como reproduções de esboços, esquiços e obras que foram fundamentais no seu percurso. Os painéis estarão patentes na Galeria Pop Up, no piso 1, entre a Decenio e a Mike Davis. A entrada é livre e poderá visitar a exposição todos os dias, entre as 10h e as 23h.